08/12/08

Acontecimentos Fantásticos!

Há, de facto, coisas indecifráveis, insuspeitáveis e altamente motivantes. Factos que nos empurram e nutrem a todos os níveis.
Não é a nossa mente, o nosso ego, a nossa vontade pessoal que, podendo ser férrea, é chamada para o assunto.
Sincronicidade.
Sequência perfeitamente equilibrada na espiral da vida.
Uma sala Safira: se havia ainda alguma réstia de dúvida de que a cura e a ponte entre almas estariam presentes este fim de semana, então desenganei-me completamente. Pois a Terra, grande Mãe, dispensadora e providenciadora de Vida e de Dons, respondeu oferecendo-me uma Safira!
E neste fluxo imparável de sensações, senti uma envolvência e uma alegria no contacto, uma fé inabalável no processo Divino da minha vida. O ponto de equilibrio entre a minha vida pessoal e profissional.
Bom compromisso. Sem asfixia ou maior empenho dum por falta do outro.
Verdade. Coerência.
Através de um fio condutor invisível, mas perene, presente, sólido, profundamente ancorado.
E se no hoje, encontro a visão do meu amanhã: salto?
Confiança; reencntrá-la nos meus ritmos internos. Para mim, nos outros. Amada Safira!
No entanto... no dedo trago um Rubi!
Pois...
Então é o tal 16/7 (chato!) a dar-me trabalhinho do bom: confronto das emoções e a questão do Amor integrado no individuo por oposição à profundidade e solidão.
Acho extraordinária a dança da vida, ao som do momento.
E que falar dos medos: são aqueles amiguinhos de longa, longa data que queremos deixar em casa e esconder, quando o mais simples é convidá-los a caminhar connosco na aventura da vida!
Isto hoje está mesmo, mesmo mexidinho! Por isso o meu Aquário está armado em "apressadinho", não a querer viver tudo depressa, mas a querer que passe tudo muito rápido! Para "doer" menos. Pensa ele.
Felizmente existem outras partes de mim igualmente pensantes e que gostam mesmo é de viver os processos (no tempo que fôr) para perceberem tudo direitinho.
E poder seguir viagem!

21/10/08

Silêncios

De quando em vez, o silêncio brota naturalmente em mim e na minha vida. Ou seja, fico mesmo caladinha. Por muito tempo. É como aquela semente preciosa (por só termos uma!) que deitamos na terra com cuidado, e ficamos a ver quando desponta. Sem respirar.
Por vezes o processo é rápido. Outras, muito lento. Tão lento que perco a noção do tempo. Essa semente foi lançada em profundidade, para se nutrir do sal da terra, das águas mais puras, do cristal mais límpido... Mas até lá chegar, ela passa por rochas, cascalho, barreiras intransponíveis. Assim parecem, na altura. Mas quando deixamos de querer controlar os processos, os tempos, os conteúdos, a forma, quando nos abandonamos verdadeiramente à nossa própria mestria, à mestria da própria vida, largamos tudo, largamo-nos! E... Bum! Uma micro-folhinha desponta, fresca e alegre, na nossa realidade mais tangível. Tudo se torna mais claro, mais nítido. Como esta bela luz de Outono! E depois vem a resposta do mundo e tudo cintila à nossa volta. Apenas para o nosso deleite! Como no último curso: belo reencontro de almas na alegria mais pura!

15/03/08

NO PAIN, NO GAIN; BUT TOO MUCH PAIN.... LOTS OF COMPLAIN

Todos os grandes processos interiores geram, obrigatoriamente, grandes processos externos. É o que estou a viver.
Nalguns dias, acho que é normal, e muito desejável; noutros, nem por isso. Noutros ainda desejaria ter um botãozinho qualquer, de fácil acesso, que me permitisse desligar.
Como esse botão foi - sabiamente - "esquecido" na minha construcção vejo-me a braços com o caos, que, serenamente e de mansinho, se foi instalando na minha vida.
Desde o computador que "crashou" (pela 2ª vez!), à útil base de dados que da minha palm que - sabe-se lá porquê - simplesmente se eclipsou, até ao meu modesto tmv que "resolveu" não me indicar quem me ligou, manda as sms quando entende, ou seja, estupidamente em auto-gestão. Em resumo, comunicar tornou-se impossível.
Mas como disse, o que está fora torna-se igual ao que está dentro. Logo, esta situação faz-me pensar de que forma eu não estou a comunicar, a comunicar-me.
Neste entretanto, o meu ambiente humano questiona-se. E com razão. Onde é que eu estou? O que se passa que eu não respondo a telefonemas, mensagens?
E eu pergunto-me em que parte de mim me encontro eu fechada, ao ponto de estar assim tão inacessível.
Faz-me pensar na ostra e na pérola. A pérola forma-se a partir de toxinas que a ostra tenta, desesperadamente expulsar. Fecha-se nesse processo doloroso, produzindo enzimas para excretar essas toxinas. E ao tentar, fortemente, eliminar o intruso, eis que ele se transforma numa das mais belas ofertas com que a natureza nos brinda.
Curioso que o ser humano tenha que passar por um processo idêntico: aceitar a sua maior sombra para reconhecer a sua maior luz.
Hoje acredito na pérola da minha vida, depois do caminho que percorro...

04/02/08

Música dos Sentidos

Trabalhando a Deusa torna-se impossível "desligar-me" dos Deuses que cruzam o meu caminho. Por isso quero saudar um em particular, publicando o seguinte murmúrio:
"Adoro as mulheres. Em particular adoro os lagos esmeralda que são os teus olhos. Hum, os lábios... adoro os sorrisos e os bocejos. A pele é tão macia que é caxemira, da cabeça aos pés. A pele de uma mulher inspira no homem o amor da exploração de um Magalhães. E então que dizer da barriga: fico louco. É mais o facto de ser a parte do corpo que prenuncia outros prazeres. Está tão perto e tão distante...
As curvas são como o movimento da serpente, insinuando-se. Curvas e mais curvas. E o perfume que se desdobra e revela aos poucos.
Paladar de frutos, como um néctar licoroso de uma deusa.
Danço, danças, dançamos. Olho nessas esmeraldas e somos nós. Ponte de generosidade e de amor. Dádiva da terra e do céu. Jamais me senti tão cheio de mim. Plenitude."
Bom, missão cumprida.

19/01/08

Abundância vs Autonomia

Este tema tem estado na minhas últimas reflexões.
Pedimos a manifestação da abundância, em todos os aspectos da nossa vida: pedimos companheiros de jornada, amantes, maridos/mulheres, amigos, uma carreira de sucesso, estabilidade financeira, saúde e beleza, reconhecimento pessoal e social. Enfim, tudo.
E de facto, temos toda a razão, pois a abundância total é um fluxo inerente a todo e cada ser humano. É algo, a que temos, intrinsecamente, direito enquanto pessoas desde que nascemos.
No entanto, continuamos a sentir diferentes formas e graus de privações para além de vazios imensos. A nível colectivo, o quadro é o que vemos, tão astutamente explorado pelos meios de comunicação social: a degradação, a humilhação, a fome, a ausência de um "lar", vemos a solidão e os sem-abrigo multiplicarem-se, num quadro de miséria humana que eu, como membro do grupo dos humanos, considero também minha. O meu coração chora, a minha alma sofre, a minha mente revolta-se.
E depois aparecem livros "fantásticos", com fórmulas verdadeiramente milagrosas (sobretudo para os autores que passaram de humildes desconhecidos e ilustres conhecidos) e que dissertam sobre a abundância, ou melhor, como a "atrair". E conforme versam esses livros (e há muitos) e como último exemplo temos o "Segredo", seria suficiente pedir ao Universo para que toda a Abundância se derramasse na nossa vida. A realidade é outra: fartamo-nos de pedir, mas aquilo que a nossa realidade nos mostra, mesmo, é algo completamente diferente.
Então o que é que falhou na fórmula? O que é que faz que com que a Abundância não flua, límpida e forte, como um rio amplo e tranquilo?
O meu cérebro hoje "epifanou-se". Se eu peço algo ao Universo, é natural que a Fonte Suprema me devolva tudo o que eu peço. Se considerarmos a Abundância como um líquido, e a nossa vida como a taça, podem apresentar-se então duas situações: primeiro, a taça está demasiado suja e cheia (de conceitos, bloqueios, padrões de comportamento tipo "eu não mereço") e o Universo, perfeito, diz-nos para avançarmos na limpeza determinadamente propondo-nos verdadeiras situações de cura. A segunda é a taça ter tantas ramificações que nela, à semelhança de inúmeros furos, qualquer líquido depressa se escoaria. E porque o Universo é sublime, a Abundância espera até que a taça se recomponha.
De uma forma concreta, ou eu tenho tanta coisa para resolver que não me dou tempo e reconhecimento, ou tenho muitos vínculos de dependência. Ambas as situações me impedem de viver a Abundância.
Concluo então que, antes de receber completamente aquilo que peço, talvez não seja mal pensado verificar no meu interior se me considero merecedora, digna e capaz de gerir (a nível físico, emocional, mental e espiritual) um fluxo que é infinito e interminável (pois a partir daqui não existem desculpas para os padrões de victima, de salvador) e, sobretudo, tornar-me inequivocamente, autónoma. Principalmente, desses ditos padrões.
Limpar a "casa" é preciso, e deitar fora o que já não serve, para que outras coisas venham até mim, de uma forma natural e abundantemente.
Carpe Diem!

16/01/08

A Lenda da Flor de Lótus

Certo dia, à margem de um tranquilo lago solitário, a cuja margem se erguiam frondosas árvores com perfumadas flores de mil cores, e ninhos onde aves chilreavam, encontraram-se quatro elementos irmãos: o fogo, o ar, a água e a terra. - Quanto tempo sem nos vermos em nossa nudez primitiva - disse o fogo cheio de entusiasmo, como é de sua natureza. É verdade - disse o ar. - É um destino bem curioso o nosso. À custa de tanto nos prestarmos para construir formas e mais formas, tornamo-nos escravos de nossa obra e perdemos a nossa liberdade. - Não te queixes - disse a água -, pois estamos obedecendo à Lei, e é um Divino Prazer servir à Criação. Por outro lado, não perdemos a nossa liberdade; tu corres de um lado para outro, à tua vontade; o irmão fogo, entra e sai por todo lado servindo a vida e a morte. Eu faço o mesmo. - Em todo o caso, sou eu quem deveria queixar-me - disse a terra - pois estou sempre imóvel, e mesmo sem a minha vontade, dou voltas e mais voltas, sem descansar no mesmo espaço. - Não entristeçais a minha felicidade ao ver-nos - tornou a dizer o fogo - com discussões supérfulas. É melhor festejarmos estes momentos em que nos encontrarmos fora da forma. Regozijemo-nos à sombra destas árvores e à margem deste lago formado pela nossa união. Todos o aplaudiram e se entregaram ao mais feliz companheirismo. Cada um contou o que fez durante a sua longa ausência, as maravilhas que tinham construído e destruído. Cada um se orgulhou de se ter prestado para que a Vida se manifestasse através de formas sempre mais belas e mais perfeitas. E mais se regozijaram, pensando na multidão de vezes que se uniram fragmentariamente para o seu trabalho. No meio de tanta grande alegria, existia uma nuvem: o homem. Ah! como ele era ingrato. Haviam-no construído com seus mais perfeitos e puros materiais, e o homem abusava deles, perdendo-os. Tiveram o desejo de retirar a sua cooperação e privá-lo de realizar as suas experiências no plano físico. Porém a nuvem dissipou-se e a alegria voltou a reinar entre os quatro irmãos. Aproximando-se o momento de se separarem, pensaram em deixar uma recordação que perpetuasse através das idades a felicidade de seu encontro. Resolveram criar alguma coisa especial que, composta de fragmentos de cada um, harmoniosamente combinados, fosse também a expressão das suas diferenças e independência, e servisse de símbolo e exemplo para o homem. Houve muitos projectos que foram abandonados por serem incompletos e insuficientes. Por fim, reflectindo-se no lago, os quatro disseram: - E se construíssemos uma planta cujas raízes estivessem no fundo do lago, a haste na água e as folhas e flores fora dela? - A ideia pareceu digna de experiência. Eu porei as melhores forças de minhas entranhas - disse a terra - e alimentarei suas raízes. - Eu porei as melhores ninfas de meus seios - disse a água - e farei crescer sua haste. - Eu porei minhas melhores brisas - disse o ar - e tonificarei a planta. - Eu porei todo o rmeu calor - disse o fogo - para dar às suas pétalas as mais magníficas cores. Dito e feito. Os quatro irmãos começaram a sua obra. Fibra sobre fibra foram construídas as raízes, a haste, as folhas e as flores. O sol abençoou-a e a planta entrou na flora regional, saudada como rainha. Quando os quatro elementos se separaram, a Flor de Lótus brilhava no lago com a sua beleza imaculada, e servia para o homem como símbolo da pureza e perfeição humana. Consultaram-se os astros, e foi fixada a data de 8 de Maio - quando a Terra está sob a influência da Constelação de Touro, símbolo do Poder Criador - para a comemoração que desde épocas remotas se tem perpetuado através das idades. Foi espalhada esta comemoração por todos os países do Ocidente, e, em 1948, o dia 8 de Maio se tomou também o "Dia da Paz".

15/01/08

A Hierarquia do Prazer

Continuando a reflexão de ontem, trago agora uma outra Pirâmide: a do Prazer!
Vejamos:
O prazer é uma substância esquecida, nos processos evolutivos deste mundo, onde o registo é "crescer é sofrer". E nós acreditamos nisto, mesmo! Com registos de sofrimento como aferição da legitimidade da sua evolução, o Ser Humano avança no tempo da sua existência, projectando nos caminhos que percorre imagens de sangue, suor e lágrimas. Mal de tudo aquilo que não se consegue representar desta forma.
Bom, aí começamos a inventar. E o Ser Humano é altamente criativo!
O momento da refeição deverá ser um verdadeiro momento de prazer onde, sendo os alimentos cuidadosamente escolhidos e confeccionados, representará um deleite ao paladar, ao olhos, ao olfacto, para além do momento em que partilhamos alegrias, descobertas e ouvimos quem connosco a celebra. Com tanta coisa fantástica, como iremos convertê-la em sofrimento? Simples. Basta deitar a mão ao congelador e aquecer no microndas aqueles pacotes com misturas descoradas que, de sedutor, apenas têm a fotografia da embalagem, preferencialmente solitaria e rapidamente, sem nos sentarmos sequer à mesa (estranha-se? muitos de nós comportam-se desta forma!), tudo muito bem temperado com aquela dose de culpa em relação às calorias e às consequências delas. Compensaremos depois com umas valentes e sofridas horas no ginásio (veja-se que aqui o ginásio passou a ser sinónimo de sofrimento!).
Quanto ao repouso, que se revela no momento tranquilo e alegre do despertar, esse poderá sempre ficar para o próximo fim semana, no qual depois de nos deitarmos às 5 da matina ficaremos (pensamos nós) a recuperar o "sono perdido" até às 4 da tarde. Lógico, aí vem novamente a Sra. Culpa, porque às 4 da tarde, constatamos que acabámos de perder uma parte significativa do dia. Mas, tudo bem, recuperamos depois. Nem que seja com uma ajudinha! Além disso, deitarmo-nos a horas, dormirmos o tempo que o nosso corpo necessita e, sobretudo, acordarmos cedo para irmos fazer a tal caminhada, serão sempre tópicos importantes na nossa lista de prioridades anual.... para o ano!
Quanto ao sexo, bom, esse vem no final...
A segurança e harmonia de um tecto, podendo ser simples e modesto, deverá ser o motor da nosso conforto, no entanto permitimo-nos projectar um holograma sobre as fotografias de uma revista de decoração qualquer. Fantasiando e impedindo-nos de usufruir verdadeiramente aquilo que temos!
Uma saída na senda do prazer, contempla o equilibrio, a sensatez e muitas vezes a irreverência. Por isso, cada saída deveria ser fruto de reflexão cuidada e conjunta, de forma a espelhar a maior qualidade. É liberdade, nunca libertinagem. No entanto, fazemos gala de sair várias vezes por semana, com a nossa melhor indumentária, na procura do melhor papel de embrulho para o artigo que comprámos, desinteressadamente, na loja de conveniência da esquina, ou então aquela prendinha que nos ofereceram e que nós desejamos empandeirar para outro lado. Afinal de contas, o que conta mesmo "é a primeira impressão" (outra jóia das nossas programações sociais manipulativas e redutoras!) e o resto logo se vê.
Quanto à carreira, e porque ela é apenas uma das muitas esferas que nos movem, deveriamos atribuir-lhe o seu lugar, a sua função, a sua importância relativos e, sempre que insatisfeitos, darmo-nos a liberdade de mudar. Alto e pára o baile! Então quem é que paga o carro, a casa, os cartões de crédito (que tão confortavelmente nos mantêm em fantasias irreais), e a vida que não podemos ter mas que insistimos em plasmar das personagens da tv e das revistas? E, devemos bem saber, que estas, não existem! As coisas que despejamos sobre as nossas crias, para colmatar todos os outros ingredientes do Amor para os quais, "não temos tempo"?
E porque nos reconhecemos como Seres Humanos, poderemos dar-nos tempo para usufruir da vida, alegre e prazeirosamente, em liberdade. Chegando aqui, torna-se dificil, atendendo ao peso da culpa que se foi acumulando degraus acima. E lá se vai a auto-estima por água abaixo! Quando se olha para o passado, existe muita coisa estragada e desarrumada, coisas que não nos fazem falta. No entanto, se resolvemos tudo como poderemos correr para o colo da mãe, batermos o pé quando a vida não nos dá o que queremos ou até mesmo amuarmos? Não dá. Então, porque é dificil aguentarmos a pressão do nosso ambiente social, fingimos tratar desse assunto. Com estilo.
Se somos responsáveis e éticos, com espelhos de vida que reconhecemos como reflectores genuinos da nossa imagem, enveredamos no caminho da consciência, na satisfação que é subir os degraus da nossa evolução, nas descobertas, partilhas, alegria e prazer desse caminho. Mas não, é muito complicado dizermos "ora explica lá isso que eu não percebi!" ou "não posso avaliar porque a minha vida ainda não me apresentou esse desafio", não vão os outros confundir a nossa honestidade com falta de inteligência! Aqui, caimos no risco de "sentir" muito, com muitas cores, muito tudo. Acrescentamos ainda mais véus à nossa, já bastante carregada, "trajamenta"!
Todos estes ingredientes, atingem o pico máximo da revelação nos encontros amorosos, independentemente do nosso estado civil. Sim, porque na fotografia da vida os relacionamentos são de facto o revelador da obra de arte!
E na nossa suprema (in)consciência ainda temos a "lata" de divulgar e de nos vangloriarmos com a exposição fotográfica!
Estou exausta, sem dúvida nenhuma a via do prazer gasta muito menos energia!

14/01/08

Sensha com pétalas de rosa e... xururu

Aqueci a água, rigorosamente a 70º, e, meticulosamente coloquei as folhas de sensha no bule. Deixei repousar, e acrescentei pétalas de rosa. Esperei tranquila, o momento certo. Servi uma taça e degustei.
E durante este deleite de sofisticação, entrei num turbilhão de reflexões sobre a diversidade. Numa espiral perfeita.
Vivemos num planeta onde a diversidade se revela e nos maravilha. Mas também nos ilude e confunde. Reduz e limita. Se quisermos, se não estivermos atentos.
E a distorção da diversidade conduz à adversidade. Se deixarmos, se estivermos não-conscientes, se acharmos confortável estarmos no nosso cubo bem definido.
O que é que nos conduz a essa distorção?
Maslow estabeleceu a célebre pirâmide das necessidades, e não foi um acaso estarem as fisiológicas na base de tudo.
Hoje em dia comportamo-nos (ilusoriamente) a partir de um filtro de auto-realização, pretendendo procurar o nosso potencial, auto-desenvolvendo-nos. Procurando em nós, nos outros e na vida a voz da consciência que nos diz para passarmos a ser mais e tornarmo-nos naquilo que queremos e podemos ser. E a coisa tem êxito, a ver pelo sucesso de vendas do "Segredo".
Depois, falamos imenso de auto-estima, ou seja de que forma me vejo e me avalio. Falamos, sobretudo, dos disfuncionamentos decorrentes da falta dela: bulimia, anorexia, desvalorização, diferentes tipos de neuroses. E este domínio faz as delícias de médicos, psicólogos, terapeutas e ervanárias com fórmulas e abordagens extraordinárias.
Fantasia-se, consequentemente, sobre as necessidades sociais, aumentando a quantidade e preterindo a qualidade. O verdadeiro delírio para os donos de bares, discotecas, clubes de encontro e de amizade e, incrivelmente, revistas cor-de-rosa.
E quanto à segurança, elas definem a nossa nossa necessidade de estabilidade, protecção contra ameaças ou privações e fuga ao perigo. Aqui, trememos, mas continuamos a compensar com as ilusões decorrentes da auto-realização, justificando o nosso (péssimo) relacionamento com os assuntos materiais como uma inerência ao desenvolvimento espiritual e pessoal. Que tremenda ilusão!
E, enquanto nos achamos muito evoluidos, as fundações de areia sobre as quais nos construímos, ruem devagarinho, desiquilibrando tudo, desmanchando tudo, revelando o que não está, nem nunca esteve, bem!
Essas fundações, que todos deveríamos ter consolidadas (como direito natural do facto de sermos seres humanos) independentemente de tudo o resto, gritam agora pelo seu reconhecimento na hierarquia estrutural do Ser, ou seja, manifestam-se nos dominios social, de segurança, de auto-estima e de auto-realização.
As pessoas alimentam-se (muito mal) ignorando as mais elementares regras de saúde, em nome de uma boa e falsa auto-estima, regendo-se por imagens fabricadas sobre a idealização da beleza e obrigando-se a padrões estéticos incoerentes com a sua biologia e com a sua vontade.
Em nome do social, dormem mal e, principalmente, desconhecem cada vez mais o significado real da palavra repouso.
Porque vivemos numa dimensão dual onde o tempo, de facto, nos condiciona e não estica, o "ninho" é frequentemente negligenciado, sendo mal tratado a todos os níveis. Subentenda-se como "ninho" o local sagrado onde nos regeneramos e consolidamos os nossos relacionamentos (connosco e com os demais elementos do nosso núcleo familiar).
E então que falar do sexo? Todos temos muitas opiniões, muitos conceitos, muitas expectativas e muita, mas mesmo muita fantasia. Primeiro, em relação a nós próprios, e de seguida arrastamos e incluimos quem está connosco nesses devaneios disparatados.
Exigimos muito ao outro, esperando que ele seja capaz de fazer aquilo que nós não somos. Acreditamos que amor à "primeira vista" é o mesmo que "química". Queremos entrar na sofisticação e requinte dos relacionamentos, sem termos passado pelo elementar "conheço-me?". Mais, queremos servir um jantar com 8 pratos, sem sabermos pôr a mesa para 1.
Fantasiamos sobre o sexo, iludidos sobre com o bombardeio de informações sobre o Tantra, o Taoismo e outras correntes filosóficas que nada têm de superficial. Imaginamo-nos num encontro de contorcionistas (impossível para a nossa anatomia), em orgasmos infindáveis, e noutras proezas radiciais. Mas, completamente destituidos de nós próprios.
A quantidade de filmes que vemos!
Que tal começar pelo príncipio? Comecemos por reconhecer o que somos, biológica e emocionalmente, para sabermos muito bem o que verdadeiramente queremos, o que nos faz felizes, o que preenche as nossas necessidades básicas. Percebermos os nossos padrões de dependência e de vazio estrutural. Conhecermos, genuinamente, o local e função de cada botão da engrenagem que somos. E isso envolve empenho, vontade e compromisso. Para não termos que chacinar o outro quando ele não nos (re)conhece, ou ainda quando nos pergunta "é aqui, querida?" e nós respondermos "hummm?!".
Bebendo o sencha e reflectindo...

10/01/08

Aloha 'Aina

Amar A Terra (Aloha 'Aina) é a proposta da minha Deusa interna. E que trajecto Ela me tem feito percorrer, dentro e fora de mim!
Amar a Terra é deixar-me conduzir nas "minhas terras", nos meus músculos; é fazer genuinamente, a PAZ com a Terra-Mãe; fazer a PAZ com a mãe interna e com a mãe biológica. É aceitar o poder da Mãe que vibra em mim. É contactar a Lua e concordar com as suas propostas, mesmo as mais arrojadas! E sinto-me na Caverna da Iniciação, aquela que antecede o "vir à luz" da Deusa.
Enquanto o processo se intensifica e se acelera, se torna primevo, vital, danço. O meu corpo - vestido de Tapa - vai buscar ritmos antigos, movimentos arcaicos e, verdadeiramente, geradores matriciais. Cheiro intensamente à flor da Hula (frangipana)...
Oiço os tam-tam's e sinto-os vibrar no coração das minhas células, caminho na areia molhada e o remorejar de plácidas vagas embala os movimentos do meu corpo. Canto. E o som que nasce, cresce e se revela lembra-me rostos, cores e rituais que de outros tempos.
Aloha - aloha - aloha 'aina, amar a Terra, amar a Deusa, amar a mãe, pois cada homem nesta terra é criado e nasce a partir dela, e a ela, inevitavelmente tem que retornar para se (re)conhecer como filho do Amor.
Canto o Kumulipo (o cântico da fonte da vida), e vagas de gentileza (akahai), unidade (lokahi), prazer (oluolu), humildade (haahaa) e paciência (ahonui) embalam e nutrem-me, embalam e nutrem a Terra, embalam e nutrem os filhos da Terra.
Aloha, aloha, aloha 'aina
(aloha é mais do que uma simples saudação, quer dizer:
= atenção e afeição mutua que se expande sem obrigação de retorno;
= essência dos relacionamentos, no qual cada pessoa é importante para toda a pessoa e existência colectiva;
= significa ouvir o que não é dito, ver o que não pode ser visto e saber o que ainda não é conhecido.
Aloha!!!)

09/01/08

O Caminho do Coração

O Caminho do Coração: esta é a minha homenagem a Rumi.
Criador do Sufismo - caminho do êxtase Dervish -, nasceu em 1207 em Balkh (território do Afeganistão), e para além de brilhante teólogo, é um dos poetas persas mais venerados de todos os tempos.
Porque fui Sufi noutros tempos, ainda vibra nas minhas células o brilho do êxtase e da plena comunhão com a Fonte Divina, na completa assunção e reconhecimento da minha parte de Deusa e Deus.
Rumi, deixou-se embeber completamente dessa energia que permeia todas as realidades. Sendo homem desta terra, como Mestre Sufi nunca esteve fechado na sua torre de marfim, pelo contrário ele entregou-se à humanidade inteira, amando e vibrando com cada pulsar do mundo.
E ofereceu-nos esse Estar, esse Sentir, esse Viver nas suas poesias. Entrego aqui algumas, esperando que, a quem me lê, desperte a curiosidade sobre o seu Caminho do Coração:
Quote
I
Porque deverei eu estar na Procura?
Sou o mesmo que ele.
A sua essência fala através da mim.
Tenho andado à procura de mim mesmo!
II
Olhando a minha vida
Apenas vejo Amor
Foi a companhia da minha Alma
e do ponto mais profundo de mim,
a minha Alma grita:
Não esperes, rende-te,
em nome do Amor!
III
Se não fores capaz de sentir a fragrância do Amor,
Se não estiveres disposto a despir-te
Não entres na corrente da Verdade.
Fica onde estás.
Não venhas até nós.
IV
O mestre, cheio de Doçura,
Tão ébrio do seu Amor, está desmemoriado.
"Mestre, dás-me um pouco da tua doçura?"
"Não tenho nenhuma", diz ele
desconhecendo a sua riqueza.
Unquote
Nestes versos, Rumi permanece vivo na sua quintessência de Amor e através deles banha a Humanidade do brilho da Fonte.
Através destes versos, conversamos longamente e deixo-me entrar nessa espiral de Luz que me liga, em simultâneo, ao Céu e à Terra, através do meu Caminho do Coração!
Bem hajas, Rumi!

07/01/08

O Tigre e o Dragão

Hoje, acordei com este tema no meu espírito.
Diziam os homens-medicina das culturas ancestrais, que a complementação de duas pessoas tinha muito mais a ver com a complementação e colaboração dos seus animais-totem, do que propriamente pela possibilidade de conjugação de outras características. Parece distante da actual forma de escolhermos a nossa cara-metade? Se calhar, salvaguardando a distância espaço-temporal e demais programas comportamentais, não nos comportamos assim de forma tão diferente.
Poderia divagar sobre o método de selecção das associações matrimoniais, tipo família A com a B, o sistema de castas, de clãs, de religião, de raças, etc, etc. O método é extenso, complexo e, infelizmente, ainda profundamente enraízado no consciente colectivo. Mas não me apetece divagar. Pronto.
Apenas mencionei esta selecção porque reflecti sobre o meu próprio animal-totem: o Dragão. Ainda por cima um animal cuja força, poder e longevidade o torna, não só solitário, como naturalmente um líder.
Com uma energia eminentemente Yang, masculina, o Senhor Dragão não desce lá do céu "por dá cá aquela palha", e se por um lado sopra o movimento de criação e de energia, por outro não tem qualquer problema em manifestar os seus dons e liderança, deixando - algumas vezes - um cheiro de penugem chamuscada em quem descarada e incorrectamente lhe faz frente. E isso não torna as coisas fáceis para mim. Apesar do Senhor Dragão que me escolheu, pertencer ao elemento Madeira, o que torna as coisas um pouco mais suaves.
Durante muito tempo considerei, que arranjar um parceiro suficientemente forte para aplacar a energia do meu bicho, era uma aventura arrojada, e com poucas probabilidades de sucesso. Wrong! Necessitei de muito trabalho com o QiGong, com o Taoismo e com o Tantra para me aperceber do meu crasso erro de auto-avaliação.
Vejamos, por onde andou divagando o meu espírito durante a noite. Há 21 anos que tenho um Tigre Madeira a conviver comigo intensamente, em harmonia e com profundo respeito pela mestria de um e de outro. Como foi possível não ter considerado esta hipótese?
Que outros dois animais se poderiam, em igualdade, encontrar face a face? A pulsão de um é a pulsão do outro, em polaridades opostas, em potencial equilibrio e harmonia.
Falar do tigre e do dragão, é falar da energia pura, do fogo. É falar de Taoismo, de Tantra.
E no Taoismo, distinguem-se três regiões no corpo humano. A região postero-inferior da cabeça o occipital, também designado por "osso da almofada": “A almofada de Jade (Yu Chen) encontra-se na parte postero-inferior da cabeça. O chamado osso da almofada é o occipital (Chen-Ku)”. “O palácio do Ni-Huan (termo derivado do sânscrito Nirvana) encontra-se no cérebro, chamado também "mar da medula óssea" (Suei-Hai), e a origem das substâncias seminais”. “A região média é a coluna vertebral, considerada não como um eixo funcional e sim como um conducto, unindo as cavidades cerebrais com os centros genitais, terminando num ponto chamado de coluna celeste (Tienchu), situado na nuca no ponto de inserção capilar. Não deve ser confundido este ponto com o que na acupuntura tem o mesmo nome”. A região inferior compreende o campo de cinábrio (Tan-Tien), e nela se assenta a actividade genital representada pelos rins, o fogo do Tigre (Yang à esquerda), e o fogo do Dragão (Yin à direita).
Afinal, se calhar não foi o meu Dragão que desejou estar solitariamente instalado na vida, senão eu própria, por medo do cheiro a chamuscado!

Sexualidade(s)

Enquanto "trabalho" seriamente no esclarecimento dos diferentes patamares, apetências e exigências da minha sexualidade, confronto-me com diferentes de discursos sobre o tema. E apercebo-me que cheguei a esta idade, perfeita e completamente ignorante quanto ao modus operandi sexual das minhas congéneres.
Explico melhor. Compreendi a validade do seguinte, para a maioria das mulheres :
1 - Que o tamanho do orgão masculino é uma coisa importante, sendo apreciado (dito escolhido) à semelhança de um salmão que se pretenda servir num jantar qualquer;
2 - Que a manifestação de ciúmes, assim como a sua intensidade, por parte do parceiro é directamente proporcional ao amor sentido pelo mesmo;
3 - Que é normal entrar em crises de apneia (e demais sintomas agúdos), mesmo em completa ausência de batimentos cardíacos, nos dois segundos seguintes ao primeiro beijo molhado;
4 - Que convém telefonar muito, perguntar muito, pestanejar muito, suspirar muito, não vá o "bicho" volatizar-se do nosso universo, tele-transportando-se para outro paraíso feminino qualquer;
5 - Que é NORMAL beber bastante álcool (e outros coadjuvantes), sobretudo no primeiro encontro, para quebrar o gelo e nos abandonarmos ao romance (?!?!) (não vá estarmos suficientemente lúcidas, e aceitarmos calmamente que não é bem naquele porsche que gostariamos de dar uma voltinha (sobretudo se for o caso de gostarmos de todo-o-terreno!));
6 - Que se a criatura não avançar, rápida e inequivocamente para o campo de batalha, é porque não serve (isto nos dias que seguem o primeiro encontro, claro!);
7 - Que o ninho de amor é verdadeiramente um campo de batalha e guerra de poderes!
E todo um desfiar de estranhos comportamentos, códigos e protocolos dignos de relevância social.
Afinal, em que planeta, sistema solar, galáxia, tenho eu vivido?
Eu, que sempre achei que os genitais dos homens da minha vida, eram perfeitos e perfeitamente equilibrados com o resto dando-lhes uma importância relativa, e sobretudo porque para mim a Arte do Amor implica outras outras áreas do corpo, assim como só se torna uma arte, quando em cada relacionamente se entrega ao casal o respeito, a liberdade e o tempo para que a dança se desenvolva e se revele.
E falar, de que forma nós, mulheres, consideramos os homens, o peso e excesso de responsabilidade que, cruelmente, lhes colocamos em cima de tão pequenina área. E, sobretudo, de que forma nos consideramos ao ponto de mantermos relacionamentos estruturados nesta desigualdade e desiquilibrio.
Talvez valesse a pena deixá-los falarem um pouco, cortejarem e seduzirem um pouco. Talvez, desta forma compreendessemos que a massa encefálica do homem, afinal, não se situa abaixo da linha da cintura. Talvez valesse a pena deixarmo-nos surpreender pelo principe que temos à nossa frente. Talvez só nos conseguiremos sentir princesas se aceitarmos os principes da nossa vida. Para além daqueles centímetros...
Sim, vivendo e aprendendo.

06/01/08

Celebração de Inverno

Cheira a terra e a folhas molhadas. A penumbra indica-me que estou numa floresta densa.
Cânticos desenham-se no espaço e finalmente chegam aos meus ouvidos, fazendo o meu coração bater mais ritmado.
Observo o que me envolve, despida de conceitos ou julgamentos. Estou num círculo de pessoas. Meio circulo formado por homens, e outro por mulheres. A roupa que os veste é simples, longa, confortável. Trazem consigo acessórios estranhos a esta minha existência: bastões, esferas e arcos de madeira. Os seus olhares são tão serenos, que os sinto vibrar entre cada pulsação. Os seus cabelos estão adornados com folhas e flores.
Sou transportada para a dimensão de um ritual sem tempo.
Estou no centro dessa roda de gargantas que cantam, de corpos que se embalam, de corações que celebram. Nesse centro de vida. Tudo pulsa, a própria floresta pulsa, o meu corpo pulsa...
No centro, um altar de pedra, fixo, sem idade, alinha-se para a celebração. Presido a essa cerimónia, vestida das cores da terra. Na minha pele sinto a caricia desse tecido antigo e suave. Cheiro a madeira de sândalo. Inebrio-me...
Lembro-me de ter bebido um chá de flores sagradas, doce, e de queimar outras que encheram o ar de um perfume raro. Sou conduzida a um corredor de luz dentro do meu ser.
Entre cânticos e danças, quase não toco o chão, apesar de jamais ter sentido as minhas raízes tão presentes. Um dos homens entrega-me uma taça de madeira cheia de água cristalina, e dentro dela um athame, que abençoo e coloco no lado esquerdo do altar. Uma das mulheres entrega-me uma taça com cascas de árvores e folhas. O seu lugar é o lado direito. Pouso-a suavemente. Contemplo a forma que se revela.
Dispo-me, e o que me cobre é escasso, precário, mas nem mesmo assim me sinto nua, apenas sinto a aragem eriçar-me a pele.
Três mulheres aproximam-se, trazendo duas taças com um pigmento ocre, e uma delas, invocando a Grande Deusa, pinta o meu corpo: um círculo que abarca o meu ventre e um traço serpenteante que parte deste até ao centro do meu peito. A sensação é poderosa e absorve toda a minha consciência.
Com a delicadeza de uma pétala que cai, deito-me nesse altar de pedra. E alguém, que esperou o seu momento, repousa no meu ventre uma taça de fogo. Entrego-me ao espírito da Grande Deusa. Consagro-me inteiramente a ela. Encarno-a, simplesmente.
Uma explosão de estrelas nascem a partir de mim. Torno-me água, terra e fogo. Torno-me fecunda. Celebra-se, no meu centro, a vida. Ofereço-a ao universo inteiro.
E é assim que estou hoje. Celebro a vida, neste recolhimento de Inverno.

03/01/08

Muros...

Hoje foi um dia estranho. Encontrei um muro dentro de mim, com uma tal dimensão que tomou todo o meu horizonte interno.
Senti-me perdida, confusa, sem pé.
Não posso recuar, mas este muro também não me permite avançar. Estou num impasse. E agora?
Olho para trás, para os lados. Estou emparedada. Subitamente apetece-me fugir. Desligar qualquer coisa no comando da minha vida. Mudar de corpo, de vida, de país, de planeta.
Oiço os soluços da minha criança interior que pede colo, atenção, conforto, segurança. Tenho que aconchegá-la no berço de amor do meu coração. Mas nem isso consigo.
Todos os alarmes disparam, avisando-me que vão ser accionados os programas internos de resistência. Não quero resistir, não quero mais. Por isso aceito deixar-me cair, no espaço desse muro. Permito-me não saber nada, não conseguir nada, não querer nada. Deixo-me cair e mergulhar num espaço escuro, vazio, frio, um muro de dor....
Só por hoje....

02/01/08

Desdobrando o silêncio

O que é isto de desdobrar o silêncio? Ou melhor, permitir que o silêncio se desdobre?
Mergulho no meu (silêncio) e deixo que ele me conduza a espaços ruidosos no meu interior. Zonas onde existem gritos de amargura, victimice, vergonha. Espaços onde vibro ainda de desejo de ter um amor, um amante, palavras de apreço e reconhecimento, onde desejo ser a única, a primeira, a mais!
Como é possível existirem ainda estes ruídos? Como é possível eu ainda desejar ter e ser tantas coisas? Como é possível ainda fazer ressonância em mim a necessidade de ter o meu ninho, o progenitor ideal para as minhas crias? Como pode a minha memória biológica arcaica falar tão alto dentro da minha barreira celular? E como ser de outra forma, se essas memórias se preparam para me deixar, definitivamente?
Comprometer-me a passar para outro nível de consciência, implica necessariamente obrigar-me a visitar todos os espaços discordantes, disfuncionantes e, sobretudo, não reconhecidos que continuam ainda a tocar verdadeiras sinfonias no anfiteatro da minha vida. E que, mesmo sem eu ter definido, assumem o controlo da minha cena. Daquela em que me pertencia o único papel.
Então, o que aconteceria se eu demitisse o encenador, o adressista, o guionista, o director de cena, todos os actores, o chefe de orquestra? O que aconteceria se ficassem só o palco e eu? Que confortável seria: eu no comando de tudo! Ahahahahah one show woman! Na verdade, que enjoo, que monotonia, que projecção obsessiva e megalómana de mim mesma! Afinal, é confortável estar no controlo da vida. Tudo ilusão! A última coisa de que sou capaz é controlar seja o que for (mas, confesso, às vezes tento, durante uns segundos!).
Que fazer da riqueza interior que obtenho ao reflectir perante a minha indecisão? E o silêncio tranquilo que vem sempre depois da gritaria interna? E então as lágrimas que vêem depois de ver o meu amor não correspondido? Então, e a confusão que persiste a partir do medo e da dúvida? E a certeza de que, apesar de tudo, o sol brilhará de novo amanhã? De que, na primavera, todas as sementes germinarão e que poderei, finalmente, contemplar as cores das flores e deixar inebriar-me pelo seu perfume?
É verdade, hoje não quereria estar em mais lado nenhum, senão limpando, arrumando a minha casa interior. Enfim, seleccionando as "roupas" que já não visto, e vsstt, lixo! Eu disse casa interior? Perdão, o meu palácio. Sim, porque o tempo que isto está a levar, só sendo mesmo um palácio. O meu consolo é que quando terminar, poderei gozar plenamente o meu palácio das mil e uma noites (e dias!). Vazio e muito, muito luminoso!
Continuo a visionar, permitindo que o meu silêncio se desdobre...

01/01/08

Ano Novo, Fluxo Novo

O vento sopra e a chuva cai seriamente lá fora, abençoando o primeiro dia do ano.

E cá dentro? Aqui dentro?

Fecho os olhos para me "ver" melhor. Sinto que a chuva lava profundamente os resíduos de antigos bloqueios e que o vento leva para longe os véus que me "disfarçaram". São as cortinas das janelas da minha vida, que impediram o sol de entrar. Agora, sem cortinas, posso finalmente admirar os pormenores - bem conservados, aliás - daquele quarto escondido dentro de mim, que recusei visitar.

Na realidade, é um quarto vazio. E esse facto ter-me-ia feito tremer de medo, não fosse a incrível sensação de tranquilidade que me preenche. Para onde foram as boas experiências da minha vida? E os meus amores, paixões e projectos? Tudo o que me fez suspirar, de antecipação ou de lembrança? Os momentos de plenitude ou sucesso? (Ups, all gone with the wind...)

Convido-me a observar a minha existência como uma longa estrada, enriquecida ao atravessar vários territórios. Se alguns trajectos foram planos, claros e com uma doce paisagem, alguns, por oposição, levaram-me a terras altas, a caminhar por trilhos apertados, irregulares e com ravinas tão profundas que me fizeram sentir as maiores vertigens. Mas concluo, que a minha tendência vai para os percursos acidentados, sem dúvida. E não poderia ser de outra forma! Retrospectivamente, consigo perceber o resultado da experiência, mas jamais conseguirei reconstituir a quantidade de força, ousadia e coragem de que necessitei para concluir essas travessias. E que direi daqueles que encontrei para me acompanharem? Daqueles que apareceram para me desafiar, para me dizerem o que eu queria esconder, mas também quem me amou de todas as formas (doce, suave, rebelde, irreverente, selvagem...), quem eu amei declarada ou silenciosamente...

Pois, reflexos multicolores numa tela que, simplesmente, deixou de existir. O desafio é uma tela em branco. A beleza é que somente numa tela em branco eu poderei pintar o que, agora, desejo. O fascínio, é dar-me a liberdade - consciente - de pintá-la só ou acompanhada.
Mas a minha palete mudou; possuo agora mais cores, de muitos cambiantes, outras qualidades e demais acessórios capazes de transformar a minha existência na minha derradeira obra de arte. Ou como eu dizia hoje a um amigo: quando se aprende a jogar xadrez e, sobretudo, a ter prazer em jogá-lo, como sentir prazer a jogar ao galo?
Quem disse que aquilo que tentamos ensinar não é para nós?

Deixo-me, hoje, com um sussuro da alma escrito no inicio de todo este processo:

Abraços eternos e ternos, À luz de todas as luas de todos os tempos ; Fomos nascente, rio e cascata, Fomos animal e dele a lã, e dela o agasalho, E de novo o abraço, pleno de doçura e conforto ; Fomos terra, montanha, árvore, E delas as folhas, as flores, a fibra, Que mantém segura a casa, Fomos fogo que funde metais, Que abraça o clã e traz a luz de volta a todas as estações, Somos assim Sol e Lua, Num momento um, num momento outro, E a simplicidade espreitando entre os dois tempos !