02/01/08

Desdobrando o silêncio

O que é isto de desdobrar o silêncio? Ou melhor, permitir que o silêncio se desdobre?
Mergulho no meu (silêncio) e deixo que ele me conduza a espaços ruidosos no meu interior. Zonas onde existem gritos de amargura, victimice, vergonha. Espaços onde vibro ainda de desejo de ter um amor, um amante, palavras de apreço e reconhecimento, onde desejo ser a única, a primeira, a mais!
Como é possível existirem ainda estes ruídos? Como é possível eu ainda desejar ter e ser tantas coisas? Como é possível ainda fazer ressonância em mim a necessidade de ter o meu ninho, o progenitor ideal para as minhas crias? Como pode a minha memória biológica arcaica falar tão alto dentro da minha barreira celular? E como ser de outra forma, se essas memórias se preparam para me deixar, definitivamente?
Comprometer-me a passar para outro nível de consciência, implica necessariamente obrigar-me a visitar todos os espaços discordantes, disfuncionantes e, sobretudo, não reconhecidos que continuam ainda a tocar verdadeiras sinfonias no anfiteatro da minha vida. E que, mesmo sem eu ter definido, assumem o controlo da minha cena. Daquela em que me pertencia o único papel.
Então, o que aconteceria se eu demitisse o encenador, o adressista, o guionista, o director de cena, todos os actores, o chefe de orquestra? O que aconteceria se ficassem só o palco e eu? Que confortável seria: eu no comando de tudo! Ahahahahah one show woman! Na verdade, que enjoo, que monotonia, que projecção obsessiva e megalómana de mim mesma! Afinal, é confortável estar no controlo da vida. Tudo ilusão! A última coisa de que sou capaz é controlar seja o que for (mas, confesso, às vezes tento, durante uns segundos!).
Que fazer da riqueza interior que obtenho ao reflectir perante a minha indecisão? E o silêncio tranquilo que vem sempre depois da gritaria interna? E então as lágrimas que vêem depois de ver o meu amor não correspondido? Então, e a confusão que persiste a partir do medo e da dúvida? E a certeza de que, apesar de tudo, o sol brilhará de novo amanhã? De que, na primavera, todas as sementes germinarão e que poderei, finalmente, contemplar as cores das flores e deixar inebriar-me pelo seu perfume?
É verdade, hoje não quereria estar em mais lado nenhum, senão limpando, arrumando a minha casa interior. Enfim, seleccionando as "roupas" que já não visto, e vsstt, lixo! Eu disse casa interior? Perdão, o meu palácio. Sim, porque o tempo que isto está a levar, só sendo mesmo um palácio. O meu consolo é que quando terminar, poderei gozar plenamente o meu palácio das mil e uma noites (e dias!). Vazio e muito, muito luminoso!
Continuo a visionar, permitindo que o meu silêncio se desdobre...

1 comentário:

Anónimo disse...

Pois é amiga...somos seres em transformação, que escolhemos o caminho da evolução. Decidimos subir a montanha mais alta, mas que permite a melhor vista.
Quem disse que o caminho mais curto e facil é o melhor?

"Coragem para mudar as coisas que posso" foi isso que pediste.
E olha que coragem.