31/12/07

Espírito Tranquilo

Seis horas da manhã. Está escuro ainda. O Sol ainda não nasceu. Sento-me na areia húmida, juntinho ao mar. Ondas vêm, ondas vão. O crepúsculo define-se; os contornos, aos poucos, revelam-se. É um momento de vazio. E eu gosto deste vazio, do instante que antecede o êxtase.
Fecho os olhos. Medito. Mergulho, sem questionamento, nos espaços vazios que ainda existem em mim. Deixo-me ir, cair. Olho o crepúsculo que se desenha no meu centro, os contornos da minha história. Também hoje, o crepúsculo do ano. Como num filme, que apenas posso ver mas que não me pertence, assim vejo os últimos traços dessas memórias, através de um filtro de tranquilidade.
É nesse jardim interior, feito de beleza e serenidade, que admiro as novas flores em botão, ainda, e me deixo acariciar pela brisa carregada de aromas exóticos.
Volto a mim ainda a cheirar à espuma das vagas, a linho e a açafrão. Sorrio, à suavidade do novo néctar que se alquimiza em mim.
"A um espírito tranquilo, o Universo inteiro se rende" Chuang Tsé

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