28/12/07

A Dança da Vida

A vida é uma imensa coreografia ao som de risos, palavras, suspiros, choros... Pelo menos a minha. Que convite este: dançar plenamente a minha própria vida! Pergunto-me se tenho jeito para tal, se conseguirei memorizar essa coreografia que é única, se conseguirei estar no ritmo certo, no momento certo, se conseguirei fluir de acto para acto com elegância e dignidade, se conseguirei... se conseguirei.... Sei lá! De facto não sei, mas se calhar a vida não me pede as coisas absurdas que a minha mente e personalidade definem. A vida não me pede para ter memória, ou ritmo, ou elegância, ou sequer fluidez. Pede-me simplesmente para viver, ao ritmo que ela própria impõe, para contactar a memória dos tempos que me habita sem estagnar nela, sem me condicionar pelo conceito (se calhar, bem errado!) de elegância ou dignidade. Viver, simplesmente! Como é fácil escrever, falar, comentar, julgar, considerar! Sobretudo acerca de nós próprios! Será que é mais importante reflectir sobre os passos que se dão, os tempos desses passos, ou somente experimentá-los? Como evitar de sentir todos os reflexos passados e futuros no espelho do presente? Como deixar, simplesmente, de sentir as histórias que se repetem, uma e outra vez? No pior, até com as mesmas personagens. O cenário é outro, os actores diferentes. O guião, o descritivo das personagens, rigorosamente o mesmo. Então, como num grande ensaio, que passos eu dancei fora do tom, de que momentos eu fugi, em que momentos calei quando tinha o papel principal? Sinto-me numa espiral de fogo, imparável e poderosa, na qual entrei de forma consciente e de livre e espontânea vontade. E essa espiral varre, implacável, todos os traços de representações anteriores. Não posso deixar de olhar para tudo o que me deixa, tudo o que finalmente decidi deixar partir, que não me pertence mais, que não me representa nem nunca me representou. Despir-me, somente. Ver os véus de amargura, de indecisão, de medo, de vergonha, de impaciência, de desamor partirem. Deixá-los ir. Despir-me. Desnudar-me. Tornar-me transparente. E o medo, de não me lembrar do que sou por baixo dessas máscaras que partem, daquilo que vai ficando e que eu não lembro nem conheço de mim mesma. E fico vulnerável, ainda mais. Nos fragmentos do ser que ficam quando ele despe a pele das personagens que aceitou representar. E agora? Neste processo que não pode ser travado. Numa espiral de fogo no núcleo de mim mesma. Como se sentisse um rio de magma cá dentro. Como não deixar de pensar no poder dessa explosão, que se antevê, nesse fogo líquido que me enche as veias, nessa luz que trespassa todas as minhas realidades. Nesse eu, que não conheço. Ainda... E um nó que se forma na minha garganta. Um grito que antecipo. Um cântico que nasce! E enquanto, disserto sobre a dança da vida, eis que ela passa e me puxa, apaixonantemente, para mais uma performance. Docemente, docemente.....

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