No Vale do Urubamba, um casal parou para descansar. Procurando os Amaru Punku - os Guardiões do Fogo Sagrado -, tinham caminhado em silêncio durante todo o dia, e os seus corpos, apesar de doridos, estavam leves. Sentaram-se na cavidade de uma rocha e, ternamente abraçados, observavam no pedaço de céu azul entre duas montanhas, o repouso do sol e o acordar da lua. O único som audível, era o dos seus corações, que sincronicamente tamborilavam nos seus peitos. Uma ave sagrada sobrevoava, em circulo, o local onde eles se encontravam, velando. A luz era perfeita. E o sentimento de plenitude, crescia dentro e fora deles, numa espiral. Cada vez maior, cada vez maior.
Subitamente, no espaço de céu azul, desenhou-se um pêndulo de cristal enorme, oscilando entre uma montanha e outra. Oscilando entre o sol e a lua.
Ao observarem esta dança da energia, ambos se olharam. E ele foi o primeiro a comentar "repara, como é perfeito, o sol quer alcançar a lua. olha como ele lhe fala!". Ela observou, e disse "vê, como é a lua que está a seduzir o sol! o sol apenas lhe responde!". "Não - disse-lhe ele - é o sol, o principio masculino, que propõe a atracção à lua". "Enganas-te - responde-lhe ela - o Sol apenas é o movimento vísivel. O mais poderoso é o da lua, a vaga de sedução subtil!". E os comentários continuaram durante muito, muito tempo. Cada um, inconscientemente, defendendo o seu princípio gerador: ele, o Sol, o causal masculino; ela, a lua, o causal feminino.
Enquanto os argumentos se desenrolavam, nem um nem outro se apercebeu de que os seus corações se dessincronizaram, e que o céu azul desapareceu, dando lugar a grossas nuvens...
E a chuva caiu, pura e fria. O casal protegeu-se da chuva numa gruta ali perto. Estava escuro, húmido e um cheiro a terra molhada invadia-lhes os pulmões. Um grito de uma ave ecoou, poderoso, dentro do espaço, revelando-o de grandes dimensões. Os olhos habituaram-se à penumbra, e frente a esse casal pousou a ave sagrada, o condor, aquele que vela pelos Apus, os ancestrais que habitam no alto das montanhas do Perú.
Abraçados, tinham-se de novo unido. E o Condor falou-lhes "Que vos disseram os vossos corações? O sol ou lua primeiro? Qual dos dois é o mais poderoso? E eu digo-vos que quando o sol se aproxima da lua, torna-se nela; e quando a lua se aproxima do sol, torna-se nele. E que ambos, apenas são um ou outro, porque vocês distinguem o céu e a terra. É na terra e no céu, e através de ambos, que percepcionam o sol e a lua. Inti e Quilla, o princípio masculino e o princípio feminino". O casal entreolhou-se interrogativamente, e o condor continuou "sim, homem e mulher. Apenas conseguem distinguir o sol e a lua porque estão na terra, e Pachamama fá-los aceder ao céu. Se estivessem no cosmos, o sol seria apenas uma estrela, e a lua, apenas um satélite de um planeta, sem qualquer ligação entre si. Então, que concluem?" Os olhos do condor brilhavam, prenhes de uma luz verdadeiramente mística, e um halo luminoso envolveu todo o espaço, preenchendo o casal de uma morna e envolvente sensação. Nos seus peitos os corações tornaram-se um. Um só coração, uma só batida, um só desejo, uma só visão.
O condor abriu as asas, anunciando a sua partida "A partir de hoje sejam sol e lua, ora um, ora outro, com alegria, com prazer. Cumpram a união do céu e da terra. Sejam a ponte de cristal que os une!".
Na alvorada, dentro daquela gruta, acordaram unidos o homem e a mulher, incorporando o Deus Inti e a Deusa Quilla. Jamais o céu e terra deixaram de oscilar um em direcção ao outro, através de uma ponte de amor.28/12/07
Entre o Céu e a Terra
No Vale do Urubamba, um casal parou para descansar. Procurando os Amaru Punku - os Guardiões do Fogo Sagrado -, tinham caminhado em silêncio durante todo o dia, e os seus corpos, apesar de doridos, estavam leves. Sentaram-se na cavidade de uma rocha e, ternamente abraçados, observavam no pedaço de céu azul entre duas montanhas, o repouso do sol e o acordar da lua. O único som audível, era o dos seus corações, que sincronicamente tamborilavam nos seus peitos. Uma ave sagrada sobrevoava, em circulo, o local onde eles se encontravam, velando. A luz era perfeita. E o sentimento de plenitude, crescia dentro e fora deles, numa espiral. Cada vez maior, cada vez maior.
Subitamente, no espaço de céu azul, desenhou-se um pêndulo de cristal enorme, oscilando entre uma montanha e outra. Oscilando entre o sol e a lua.
Ao observarem esta dança da energia, ambos se olharam. E ele foi o primeiro a comentar "repara, como é perfeito, o sol quer alcançar a lua. olha como ele lhe fala!". Ela observou, e disse "vê, como é a lua que está a seduzir o sol! o sol apenas lhe responde!". "Não - disse-lhe ele - é o sol, o principio masculino, que propõe a atracção à lua". "Enganas-te - responde-lhe ela - o Sol apenas é o movimento vísivel. O mais poderoso é o da lua, a vaga de sedução subtil!". E os comentários continuaram durante muito, muito tempo. Cada um, inconscientemente, defendendo o seu princípio gerador: ele, o Sol, o causal masculino; ela, a lua, o causal feminino.
Enquanto os argumentos se desenrolavam, nem um nem outro se apercebeu de que os seus corações se dessincronizaram, e que o céu azul desapareceu, dando lugar a grossas nuvens...
E a chuva caiu, pura e fria. O casal protegeu-se da chuva numa gruta ali perto. Estava escuro, húmido e um cheiro a terra molhada invadia-lhes os pulmões. Um grito de uma ave ecoou, poderoso, dentro do espaço, revelando-o de grandes dimensões. Os olhos habituaram-se à penumbra, e frente a esse casal pousou a ave sagrada, o condor, aquele que vela pelos Apus, os ancestrais que habitam no alto das montanhas do Perú.
Abraçados, tinham-se de novo unido. E o Condor falou-lhes "Que vos disseram os vossos corações? O sol ou lua primeiro? Qual dos dois é o mais poderoso? E eu digo-vos que quando o sol se aproxima da lua, torna-se nela; e quando a lua se aproxima do sol, torna-se nele. E que ambos, apenas são um ou outro, porque vocês distinguem o céu e a terra. É na terra e no céu, e através de ambos, que percepcionam o sol e a lua. Inti e Quilla, o princípio masculino e o princípio feminino". O casal entreolhou-se interrogativamente, e o condor continuou "sim, homem e mulher. Apenas conseguem distinguir o sol e a lua porque estão na terra, e Pachamama fá-los aceder ao céu. Se estivessem no cosmos, o sol seria apenas uma estrela, e a lua, apenas um satélite de um planeta, sem qualquer ligação entre si. Então, que concluem?" Os olhos do condor brilhavam, prenhes de uma luz verdadeiramente mística, e um halo luminoso envolveu todo o espaço, preenchendo o casal de uma morna e envolvente sensação. Nos seus peitos os corações tornaram-se um. Um só coração, uma só batida, um só desejo, uma só visão.
O condor abriu as asas, anunciando a sua partida "A partir de hoje sejam sol e lua, ora um, ora outro, com alegria, com prazer. Cumpram a união do céu e da terra. Sejam a ponte de cristal que os une!".
Na alvorada, dentro daquela gruta, acordaram unidos o homem e a mulher, incorporando o Deus Inti e a Deusa Quilla. Jamais o céu e terra deixaram de oscilar um em direcção ao outro, através de uma ponte de amor.
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